sexta-feira, 24 de maio de 2013

ESCRITOR JOÃO UBALDO RIBEIRO VEIO AO SESC CEARÁ.



João Ubaldo Ribeiro nasceu na Ilha de Itaparica, Bahia, em 23 de janeiro de 1941.


Membro da Academia Brasileira de Letras.
Entre seus principais livros estão:
  • Sargento Getúlio (ganhador do Prêmio Jabuti, em 1972, na categoria "Revelação de Autor");
  • Viva o povo brasileiro (que percorre quatro séculos da história do país; Prêmio Jabuti na categoria "Romance" e o Golfinho de Ouro, do governo do Rio de Janeiro).

Em 2008, o autor foi agraciado com o Prêmio Camões, considerado o mais importante de Língua Portuguesa.

João Ubaldo Ribeiro veio ao Ceará por ocasião da abertura do Ano da Alemanha no Brasil, parceria do Sesc com as Casas de Cultura Alemã, da UFC. O evento contou também com a presença do fotógrafo alemão Bernd Bühmann. João Ubaldo morou por 15 meses na alemanha e publicou o livro Um Brasileiro em Berlim.


EM DOIS MOMENTOS, COM O ESCRITOR CARLOS VAZCONCELOS. 

terça-feira, 14 de maio de 2013







FAÇA O QUE EU FAÇO; NÃO FAÇA O QUE DIGO

Bernivaldo Carneiro

       Nunca fui bom de conselho, mas diante da rotina de Alcoolino Bráulio da Rocha, não me contive.
Mesmo não sendo época de se falar de Assédio Moral, comecei com rodeios. Não pretendia parecer um intrometido sem causa ou um chefe excessivamente durão. Discurso preparado, falei com pormenores dos malefícios da bebida. Até expus algumas estatísticas de mortes por cirrose e outros males, separações por infidelidade e uma série de problemas decorrentes da ingestão alcoólica e: “caro Alcoolino, até se admite o sujeito beber nos fins de semana, em um casamento, num aniversário, etc e tal; mas encher a cara todo dia e o dia todo...” A esta altura da falação que se encaminhava para o fechamento da peca oratória, eu ergui a cabeça e diante do semblante do amigo anunciando lágrimas iminentes, inverti o rumo de minha conclusão: “...é bom demais!!!    


 
POETA DE QUINTA RECEBERÁ HOMENAGEM DA ALMECE

A ALMECE fará uma homenagem nosso amigo Bernivaldo Carneiro através do Projeto Escritor por Escritor idealizado por Francinete Azevedo neste sábado, dia 18.05.2013 às 10hs na ACL – Academia Cearense de Letras.
Vamos lá!
Há braços

terça-feira, 7 de maio de 2013



              A VINGANÇA

Bernivaldo Carneiro

Ernesto Nó Cego, sujeito de dedo exercitado no gatilho e braço calibrado no escutador de rádio da esposa de procedimento mal-falado (somente pela Maria da Penha ele acumulava uma dúzia de entradas no xilindró); repetia as palavras chaves: “tenham calma, respirem fundo, fiquem tranquilos... O técnico da manutenção está chegando...”
Um dos terceirizados da limpeza, que acabava de subir a escada correndo, com a maior língua de fora, elogiou a iniciativa de Nó Cego e pediu que ele seguisse levando conforto aos policiais, enquanto ligava para a manutenção.
— Policiais?!
— Sim! São os homens da PF que estão dando um bacorejo nos documentos da Operação Torneira Vazio.
Cerca de 40 minutos depois (ele não só tinha suspendido prontamente sua boa ação, como também retardado o quanto pôde o aviso à empresa de manutenção), o elevador finalmente se abriu para o quarto andar. Ao pé da traiçoeira máquina, Ernesto Nó Cego sapecou à queima roupa este misto de pergunta e afirmação: “é ruim né, ser preso?!” Atordoado e com a pesada roupa encharcada, o primeiro brutamonte a pisar terra firme correu o indicador direito pela testa fazendo dele uma cascata de suor e só depois respondeu: “e sem motivo, hein?!”

sexta-feira, 3 de maio de 2013




                                                            SEI DE COR

                  Carlos Nóbrega

                             Meu pai olhava para cima
                             e determinava, meio embevecido,
                             um princípio estético:
                             Está bonito para chover.
                             E o Céu passou a ser bonito
                             apenas quando não é azul. 

quinta-feira, 2 de maio de 2013


A TRADUTORA DE LIBRA


Benivaldo Carneiro


        Não sendo homem de mentiras, não vou aqui dizer que me concentrei nas palestras daquele seminário. Ao passo que na tradutora!...

Se a moça era novata no ofício, isso eu não sei. Sei, contudo, que alguns de seus sinais, na tentativa de converter a linguagem dos falantes e bons das ouças em entendimento dos surdos-mudos, me pareceram estranhos e até obscenos.

Quando se referia a nós (os funcionários do órgão promotor do evento) ela batia três vezes com a mão direita espalmada, sobre o indicador e o polegar da mão esquerda fechada. Se o assunto eram os políticos, com o polegar direito voltado para cima espetando a palma da mão esquerda aberta, ela girava a direita em formato de concha no sentido anti-horário. Traduzindo outros temas, por vezes dava banana, cotoco e até língua.    

LIVROS
Pedro Salgueiro para O Povo

Conheci o Centro da cidade com diversas livrarias. Hoje fico assustado por também não encontrar mais nenhum cinema (com exceção dos vários mini-cines pornôs que resistem às facilidades da internet) e, pasmem, nenhuma livraria: apenas três sebos verdadeiramente na ativa (um deles quase fechando as portas, segredou-me recentemente o desiludido proprietário); lembremos: nenhuma grande livraria existe mais no Centro; nenhum cinema também. Restam três grandes livrarias de shoppings (idem para os cinemas) nos bairros ricos; duas nas proximidades da UFC, uma das quais há tempos anda mal das pernas.
Dia desses um dos raros donos de sebos reclamava pra fregueses da concorrência desleal dos vendedores de livros de beira de calçada; ponderei pra ele que quanto mais pessoas envolvidas com livros melhor, mais gente lendo, mais produtos circulando; ele retrucou irredutível que “eles não pagavam impostos”, “não assinavam carteiras de funcionários” etc. etc. Mais uma vez respondi que os sujeitos que vendiam esses tipos de livros, muitas vezes caindo aos pedaços, talvez nunca tivessem tido uma carteira assinada na vida, e que, mais que vilões, eram vítimas de nossa cruel e histórica situação econômica... e blá e blá!
 O fato é que as livrarias estão se acabando, como os cinemas já tiveram um fim. Alguém mais alarmista talvez veja nisso nada mais, nada menos que o fim do livro, pelo menos em sua versão de papel.
Quando ouvi sobre essa possibilidade há algumas décadas, fiquei assustado, depois, com o tempo, fui ficando triste, por constatar que inevitavelmente caminhamos para isso. Achei o mesmo em relação ao LPs, resisti, estoquei agulhas reservas para meu velho toca-discos, mas esqueci de estocar os próprios toca-discos: um dia me vi sem ter onde colocar minhas três centenas de bolachões. A coleção inteira de Pink-Floyd, a estante de Fagner, Ednardo e Belchior, meus queridos Raimundo Soldado, Bartô Galeno e Genival Santos... E para não sofrer mais doei todos, sem exceção, pois não queria ficar “curtindo fossa” de amor sem-jeito.
Já com os livros sei que vou resistir, porque não precisarei de “toca-livros” para lê-los pra mim, no máximo um par de óculos desses de camelô; e além do mais são já tantos os disponíveis no mercado que dificilmente se acabarão antes de mim.
 Conversando com colegas escritores e leitores mais jovens não vejo neles qualquer preocupação quanto a essa questão, tranquilamente adquirem seus leitores eletrônicos de livros virtuais. Constato que o medo de que os livros desapareçam é apenas nosso, os mais velhos, que ainda foram “criados” sentindo o cheiro do papel. Meu filho e minha filha já não possuem esse receio, até riem de minha preocupação e perguntam quando é que, finalmente, eu vou comprar um tablet.
Estou me convencendo de que os livros de papel deixarão inevitavelmente de existir, mas me consolo, pois eu vou deixar de existir bem antes deles. Enquanto isso não acontece, vou continuar chafurdando livrarias e sebos, quando não encontro os que estou procurando peço sem cerimônia pela internet. Também não bancarei o teimoso e até talvez adquira um leitor de livros eletrônicos, como acabei me rendendo aos CDs, que, por sua vez, hoje estão já quase desaparecendo.
Assusto-me quando lembro que resisti ao celular por muitos anos, e hoje ele faz parte de mim como uma perna ou braço. Se o esqueço em casa parece que o dia corre num atropelo, tão dependente fiquei.
Enfim, vou envelhecendo e, por que não?, tentando me acostumar com as mudanças tão rápidas que o mundo moderno nos impõe.
Mesmo com uma ponta de tristeza.
E um tantinho de medo.
 

O POVO: 85 anos presente no Ceará VIII
Crônica Raymundo Netto para O POVO

Noite quente e estrelante de 11 de fevereiro de 1974. Creuza do Carmo Rocha chegava em casa, animada, falante e feliz. Vinha da festa de aniversário da neta Lúcia Maria Dummar Asly. Sentou-se à penteadeira. Deitou, por um instante, o olhar na imagem setuagenária no espelho, e tocava com a ponta dos dedos o cabelo da nuca quando seus braços mornos penderam. Albanisa, sentindo o silêncio do cômodo, correu-lhe a tomar o peso da mão: “Mamãe?”
Em 28 de outubro de 1897, nascia. Não conhecera o pai, Joaquim, morto antes. A mãe, Isabel Cristina, de vida humilde, costureira, morava em casa alugada com os seis filhos. Quando Maria do Carmo, Maroca, a mais velha, se casou, levou toda a família com ela, inclusive a Creuza, caçula, espirituosa, alegre e brincalhona, que gostava de ler e de conversar.
No rebentar do século XX, em Fortaleza, o Passeio Público era o ponto de encontro dos rapazes e moças, que lá se iam, em seus melhores trajes para impressionar e chamar atenção. Num desses dias, um jovem e magro telegrafista baiano, nove anos mais velho que Creuza, recém-chegado a cidade, não tirava os olhos da moça graciosa, a esbeltar o vestido, provavelmente feito pela mãe, tendo, à cabeça, um chapéu de abas largas a trazer, em seu cimo, uma pena extensa e alva que parecia acenar para ele. Então, a poesia de sua alma versou em coragem e, ali mesmo, entre as esfinges que enigmavam seu destinovo, tomou-a para si. Em apenas seis meses, noivaram, apoiados por Maroca, a irmã-guardiã.
Foi na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em 9 de fevereiro de 1915, que Demócrito e Creuza se uniram de vez. Em janeiro, entretanto, Demócrito havia assumido uma agência dos Correios em Iguatu, vindo a cidade apenas para se casar e levar a esposa, então com 18 anos. Era ano da grande seca. Não tardariam por lá, pois, quando ela engravidou, o marido, preocupado com as condições de parto, voltou a Fortaleza, ainda em agosto, passando a morar na casa de Maroca. E, em 5 de janeiro de 1916, nasceu Albaniza. Demócrito, com a segunda gravidez de Creuza, alugou uma casa na Barão do Rio Branco, e, com eles, foi a sogra, que auxiliaria com a nova netinha, a Lúcia, nascida na surpresa de sete meses, em 6 de maio de 1917.
A vida não era fácil, nem poderia ser, a princípio, pelo reduzido salário de escriturário pagador dos Correios, que era o que tinham. Mudaram de residência várias vezes e por pretextos diferentes. Aliás, um das queixas eternas de Creuza a Demócrito foi de ele nunca ter adquirido a sua casa própria.
Por outro lado, Demócrito era zeloso, afetuoso e trabalhador. Foi convidado para escrever para O Ceará, e, por iniciativa própria, lançaria a Ceará Ilustrado, revista completamente original para os moldes da época. Por meio do sucesso de sua “Nota do Dia” e de sua revista, Demócrito logo, logo, passaria a agregar em torno de si, tudo e todos que faziam a literatura, a comunicação, a política e o jornalismo de sua época.
Em 1927, quando Demócrito sofreu violenta agressão por parte de oficiais da polícia, um “recado” do então governador, Creuza o recebeu em casa, ensanguentado e com diversas escoriações, carregado por braços de populares. O jornalista tornava-se uma celebridade. Seu nome já era entendido, naquele tempo de poucos suportes de comunicação, como a voz dos oprimidos. Ganhara vulto e leitores, rapidamente, como poucos em seu tempo. Isso, de certa forma, fazia com que estivesse sempre na rua, militando, envolvido em polêmicas, escrevendo para jornais, em reuniões sociais, nos coretos das praças, além de frequentar o círculo boêmio e intelectual. Creuza sabia bem: não adiantaria cobrar a sua presença constante em casa; Demócrito era do mundo! Daí saber mais de seu esposo pelos outros. Era comum ser parada nas ruas para ouvir elogios ao “grande homem” que era o seu marido. Orgulhava-se, é verdade, mas temia. As pessoas não imaginavam o aperto que ela trazia no peito toda vez que ele colocava o chapéu na cabeça, e “conferia” às costas a pistola 32 ou seu punhal, ao atravessar a soleira de casa. Com as pequenas Izinha e Lúcia, chegava a sair de casa a procurá-lo, quando demorava, o encontrando a jantar despreocupado no restaurante da praça do Ferreira. Por vezes, iam apenas as meninas, e lá ficavam com o pai, ouvindo conversas de política, até voltarem juntos para casa. Comum também era assistir a homens armados cruzando-lhe a calçada e colocando os olhos pelas portas e frinchas das janelas. Nas manhãs, também encontrava as paredes riscadas por peixeiras e as janelas e portas marcadas por punhais, em constante ameaça, coincidentemente sempre quando Demócrito chegava animado, falando de nova contenda ou quando se orgulhava da poeira levantada por um texto seu. Ela lia o que ele escrevia e o ouvia. Na empolgação do marido, a fala firme e descontraída... Era como se não fosse com ele, mas era, e muito!
Quando surgiu O POVO, sua ausência tornou-se ainda mais sentida. Trabalhava no jornal e no consultório dentário, para “segurar as pontas”. Creuza decidiu, então, já que não podia estar nesse mundo ao lado de Demócrito, o tempo inteiro — embora fosse costumeiro vê-la com as filhas, atentas e batendo palmas, na primeira fila de seus discursos —, trazer “esse mundo” para dentro de casa: passou a convidar amigos e esposas para tertúlias literárias e, assim, trocavam visitas. Demócrito tinha necessidade de gente, de trocar ideias, e ela também.
Quando da eleição de Demócrito como deputado federal, em 1935, indo ele trabalhar no Rio de Janeiro, Creuza, durante bom tempo se viu sozinha, mesmo recebendo regulares e acalentadoras cartas do marido. Tempo difícil em que contou com a ajuda das filhas e de Paulo Sarasate. Demócrito retornou doente, e ela esteve ao seu lado até o derradeiro suspiro, em 1943.
Creuza, a primeira mulher a possuir título eleitoral no Ceará, adorava jogar “buraco” com as amigas, motivo para se encontrarem, tomarem refrescos, água de coco, comer doces e bolinhos. Nas refeições, era obrigada a tomar remédio para o fígado, dose esta que era compartilhada por quem estivesse à mesa com ela, precisando ou não. Gostava de dormir de rede. Mesmo depois da morte de Demócrito, manteve a habitual promoção de tertúlias e festas. Amigos, políticos e demais personalidades do país marcavam encontro, em cadeiras de balanço de sua varanda, para ouvi-la, pedir votos ou conselhos. Ela, muito franca, dizia o que pensava, mesmo quando não fosse tão doce quanto as iguarias servidas por Hermínia, a sua cozinheira e auxiliar de casa — que falecida, foi sepultada ao lado de Creuza.
Com a morte do genro, assumiu a presidência de O POVO, em 1970, enquanto Albanisa, a superintendência. Na época, J.C. Alencar Araripe, José Raymundo Costa e o jovem Demócrito Rocha Dummar assumiam a diretoria editorial, administrativa e comercial, respectivamente.
O Edifício Demócrito Rocha, atual sede do seu jornal, foi inaugurado em 7 de janeiro de 1974, cerca de um mês antes do falecimento de a grande “Dama d’O POVO”.